domingo, 23 de dezembro de 2012

A Náusea.

Na parede, há um buraco branco, o espelho. É uma armadilha. Sei que vou cair nela. Aí está. A coisa cinzenta acaba de aparecer no espelho. Aproximo-me e olho pra ela: já não posso ir-me.
É o reflexo de meu rosto. Muitas vezes, nesses dias perdidos, fico a contemplá-lo. Não entendo nada desse rosto. Os dos outros têm um sentido. O meu não. Sequer posso decidir se é bonito ou feio. Acho que é feio, porque me disseram. Mas isso não me impressiona. No fundo, até me choca que se possam atribuir a ele qualidades desse gênero, como se chamassem de bonito ou feio um pedaço de terra ou um bloco de rocha.

Jean-Paul Sartre.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Depois de tando cai-levanta-cai-levanta
Uma hora você cai
Cansa.
E em vez de levantar
Deita.
Olha o céu 
E deixa a vida passar.
(por cima ou não)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

pela primeira vez na vida.

Eu tenho um problema com bebidas. Presente na minha vida desde os 13 anos, escondendo a depressão, o vazio, enterrando as mágoas. Me transformando na pessoa que eu gostaria de ser. Companheira das noites difíceis, me trazendo descanso depois de trinta e seis horas de insônia. De vinte e três anos de solidão. Trazendo o choro à tona, aliviando minha alma.
Ontem, pela primeira vez na vida, me senti plenamente feliz. Sem um pingo de álcool.
Hoje eu comecei o Pilates, resolvi tomar um chá e vou dormir relendo o Gita.
Vivo de novo.

"Amazing Grace, how sweet the sound
That saved a soul, a soul like me
I once was lost, but now am found
Was blind, so blind
But now I see."

sábado, 11 de agosto de 2012

Mas você tem certeza que me ama?

"(...) eles evitam a sociedade em geral, eles tendem a se trancar no quarto da casa, a viver no campo e não na cidade, e a descobrir suas tarefas e diversões em solidão. A sociedade, na verdade, não gosta muito disso; ela diz: aquele que sai para caminhar sozinho acusa todo o mundo; ele declara que ninguém serve para ser seu companheiro; isso é muito incivilizado, mais ainda, insultuoso; a sociedade irá retaliar (...) [mas] essas pessoas não são por natureza melancólicas, amargas e anti-sociais - elas não são obtusas ou ignorantes -, mas alegres, suscetíveis, afetuosas; eles têm, mais que os outros, um grande desejo de serem amadas. Como o jovem Mozart, elas estão prestes a chorar dez vezes por dia, "mas você tem certeza que me ama?" Elas querem uma camaradagem justa e sincera, ou nenhuma."

Ralph Waldo Emerson, sobre os transcedentalistas.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

domingo, 1 de julho de 2012

É preciso compreender que nas circum-navegações da vida uma brisa amena para uns pode ser para outros uma tempestade mortal, tudo depende do calado do barco e do estado das velas.

José Saramago.
O difícil da bebida é que, numa certa altura, ela insiste em fazer você acreditar que o pior excesso é o de moderação. Dessa vez acabou comigo. É uma longa estrada de volta, e de volta pra onde? O velho Buk. Amanheci azeda. Vamo fazer um acordo? Você não me enche o saco e eu não te dou um murro!

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Tolstoi destruindo vidas.

Todos aqueles vestígios da sua vida pareceram cerca-lo e dizer: “Não, você não fugirá de nós e não será diferente, mas sim o mesmo que já era: com as dúvidas, com a eterna insatisfação consigo mesmo, com as vãs tentativas de se corrigir, com os fracassos e com a eterna esperança de felicidade, que não veio e que, para você, é impossível”.

Leon Tolstoi, Anna Karenina.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Sem comer, sem sorrir, sem dormir, sem beber. Sem falar, sem sair, sem acreditar, sem importar. Sem sonho, sem esperança, sem desejo, sem ilusão. Sem amor, sem alegria, sem abraço, sem paixão. Sem confiança, sem sensatez, sem calmaria, sem solidez. Sem planos, sem emprego, sem futuro nem presente. Só o passado preso, a angústia no peito e o choro no canto do olho. Uma espécie de vazio. Como quando acaba um sonho e fica apenas aquela sensação enjoada de que algo se perdeu.